Mozart de Melo Alves júnior
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A América Latina do ponto de vista do reconhecimento científico não se encontra em situação de destaque. Dados da Science and Engineering Indicators da National Science Foundation (2020), mostram que dos 20 países que mais publicam artigos científicos proporcionalmente ao número de autores, na América Latina (AL) apenas o Brasil figura em 11º posição, o que representa cerca de 60.147artigos de um total de 108.130 de toda AL o que reflete mais de 55% das publicações. Apesar de ser extremamente positivo para ao Brasil, esses dados são preocupantes com relação a América Latina.
Ao analisar a base (NSF, 2020) verifica-se, que não existe outros países latinos na lista de produções científicas, sendo os mais próximos o México na 24ª e a Argentina 42ª posição o que demonstra que um longo caminho deverá ser trilhado em busca do reconhecimento científico.
Figura 1 – 20 países que mais publicam proporcionalmente com relação aos número de autores
De acordo com Centoducatte, reitor da Universidade Federal do Espírito Santo (MARLUCE MOURA, 2019), se compararmos a produção científica da américa latina, temos apenas 4,75% em relação ao mundo e este número só não é pior porque somente o Brasil é responsável por 2,52% das publicações.
Baseado nos dados estatísticos levantados anteriormente, questionamentos surgem, como é possível a América Latina ficar tão distante em termo de pesquisa dos grandes centros mundiais. Se faz necessário verificar outros indicativos para entender melhor o problema.
O primeiro indicativo trata dos recursos financeiro investido em pesquisa por estes países. Segundo o instituto de estatística da UNESCO(2018), se a américa latina fosse um país o seu investimento em P&D seria na ordem de 65 bilhões de dólares, o que se comparado com os outros países, ela ocuparia a 6º posição, atrás apenas dos EUA, China, Japão, Alemanha e Coreia do Sul. No infográfico apresentado pela howmuch (UNESCO INSTITUTE FOR STATISTICS, 2018) a seguir, percebe-se que o Brasil investe cerca de 42,1 Bilhões de dólares enquanto os demais países da América Latina investem muito abaixo disso. O questionamento que fica é como a pesquisa evolui sem investimento.
Outro indicativo, é a quantidade de publicações acadêmicas realizadas segundo com a The Centre for Science and Technology Studies (2020), temos a Universidade de São Paulo em 7º lugar mundial em quantidade de publicações, com 17,2 mil artigos indexados no Web of Science. Isso é uma posição honrosa, mas não suficiente para alavancar a média da América Latina, ao analisar os dados completos, depois da USP, só teremos na 104ª posição a universidade mexicana National Autonomous University of Mexico.
Um outro indicativo trata da relevância em nossas publicações, comparando com o ranking de impacto (quantas vezes as publicações foram referenciadas), por quantidade de publicações acadêmicas, segundo a (CWTS, 2020), houve uma queda drástica do Brasil para o 90º lugar, isso significa que parte do que publicamos não é referência mundial, com relevância de apenas 5,9% dos artigos publicado.
Novos questionamentos vêm à tona, o que está acontecendo de errado? Temos produções de artigos, temos investimento e por qual motivo não temos reconhecimento da relevância em nossas publicações? Como uma região tão prospera que possui suas diversidades culturais incomparáveis, pesquisadores reconhecidos no mundo inteiro, não consegue evoluir na aprovação e reconhecimento de suas pesquisas. Sabe-se que vários fatores influenciam na evolução da produção científica como: linha de financiamento, participação da iniciativa privada, políticas publicas, prioridade à educação, dentre outros, mas precisamos encontrar novos caminhos.
Infelizmente a américa latina é dividida, onde as diferenças sócio-cultural e política influenciam decididamente em nossas produções cientificas. Somente com a união e com o fortalecimento dos laços entre os países, principalmente no que tange a educação, tem como avançar e evoluir em busca de um caminho mais promissor. A educação precisa ser a prioridade, o trabalho é árduo, mas se faz necessário começar.
Referência
NSF – NATIONAL SCIENCE FOUNDATION (US). Science & engineering indicators. National Science Foundation, 2020. Disponível em: https://ncses.nsf.gov/pubs/nsb20206/publication-output-by-region-country-or-economy. Acesso em: 20 jul. 2020
MARILUCE MOURA (Brasil). Ciência na Rua. SBPC e Andifes propõem que se ofereçam informações corretas ao presidente. 2019. Disponível em: https://ciencianarua.net/sbpc-e-andifes-propoem-que-se-oferecam-informacoes-corretas-ao-presidente/. Acesso em: 19 jul. 2020
UNESCO INSTITUTE FOR STATISTICS. How Much Your Country Spends on Research & Development. UNESCO Inst for Statistics, 2018, Disponível em: http://uis.unesco.org/apps/ visualisations/research-and-development-spending/ Acesso em: 19 jul. 2020
CWTS – CENTER FOR SCIENCE AND TECHNOLOGY STUDIES (US). CWTS Leiden Ranking 2020, 2020. Disponível em: https://www.leidenranking.com/ranking/2020/list
Acesso em: 20 jul. 2020