CIÊNCIA: PERCEPÇÕES SIMBÓLICAS INDIVIDUAIS E COLETIVAS

Como é feita a ciência? Como se tornar um pesquisador independente? O que fazer para desenvolver cientistas produtivos e relevantes? Essas são perguntas aparentemente instrumentais, mas suas respostas carregam em si parte da explicação de como estão estabelecidos o tecido social, as relações sociais e a luta pelo poder.

PERCEPÇÕES INDIVIDUAIS: Santos e Slavi (2003) destacam em seu artigo sobre a “Semiótica Peirceriana” que para Charles Peirce todas as ciências seriam ciências da observação e que toda a lógica científica deriva da percepção, inclusive nas ciência exatas.
Durante um doutoramento, por exemplo, Buarque (2015) ensina em uma aula-conversa sobre doutoramento e produção de pesquisadores independentes, que a autodescoberta ontológica do pesquisador e a descoberta científica em si acontecem praticamente ao mesmo tempo.

PERCEPÇÕES COLETIVAS: Já enquanto processo coletivo, Marcuse (1968) destaca a ciência humana como “a mais poderosa arma e o instrumento mais eficaz na luta por uma existência livre e racional.” Destaca o autor que o esforço deve ir além do estudo em si dos laboratórios e salas de aula, em busca de uma condição social que permita combater a autodestruição humana. Afirma que a libertação em si não é mera consequência indireta da ciência, mas a sua própria realização. A figura abaixo elaborada por Ribeiro Filho et. al. (2009), a partir do pensamento clássico de Kunh (1970), representa bem o processo de construção social da ciência.

Na ilustração identifica-se que paradigmas científicos evoluem de acordo com o reconhecimento de anomalias em uma determinada teoria, isso resulta em um período de insegurança, que proporciona a geração de jogos alternativos de ideias, que segundo Khun (1970), a partir dessa colisão dialética são identificadas escolas de pensamento e é possível o estabelecimento de um novo paradigma dominante.

CIÊNCIA CONSTRUTO HUMANO

Assim, tende-se a crer em uma ciência como produto eminentemente humano, produzido pelas pessoas em uma relação quase simbiótica com a pesquisa, bem como na ciência como um processo social de validação por “iguais” e “seguidores” em busca da verdade paradigmática, da justiça científica, de uma ciência que seja humana, mas sobretudo não um fim em si mesmo. No contexto da luta pela liberdade e pela sobrevivência argumentada por Marcuse, o homem e a ciência cabem apenas em um lugar onde a vida e a liberdade são condições invariantes. A menos que socialmente se construa um pensamento autodestrutivo ou necrófilo. 

Combatendo a lógica instrumental da ciência, Fromm (1981) ensina que “(…) no pensamento científico, o pensamento correto é o mais importante, tanto sob o aspecto da honestidade intelectual como sob o aspecto da aplicação do pensamento científico à prática – isto é, a técnica.” (FROMM, 1981). 

Por fim, tenho novas perguntas, agora sequer podem ser confundidas por algum desatento com questões instrumentais, sob pena de ser classificado como cético, ou até mesmo como cínico. O conhecimento produzido por máquinas inteligentes pode ser chamado de conhecimento científico, dada a natureza da ciência como fenômeno humano e social? Os conceitos atuais comportam tamanha distopia? 

REFERÊNCIAS

ALVES, Rubem. Filosofia da Ciência: Introdução ao jogo e suas regras. 20ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

BUARQUE, F.B.L. Aula conversa como fazer um doutorado: stress-free. WWU-Münster, Out-2015.

FROMM, Erich. O medo à Liberdade. Ed. Zahar, 1981.

KUHN, Thomas S. A Estrutura das Revoluções Científicas. Série debates, Editora Perspectiva, 1970. 

MARCUSE, H. Texto revisado da palestra ministrada no Lake Arrowhead Center of the University of California, Los Angeles (julho de 1966). [tradução foi feita a partir da publicação de The responsibility of science em Leonard Krieger e Fritz Stern (Org.), The responsibility of power: historical essays in honor of Hajo Holborn (New York, Doubleday, 1967), p. 439-44. https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662009000100008

RIBEIRO FILHO, José F. et al. Evolução da contabilidade financeira na perspectiva emancipatória de Erich Fromm: O processo de construção das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público — NBCASP. Sociedade, Contabilidade e Gestão, v. 4, n. 1, p. 5-20, jan./jun. 2009.

SANTOS, G. L.; SALVI, R. F. “Apontamentos sobre possíveis contribuições da semiótica de Charles Sanders Peirce na educação matemática.” Revista Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia 6, no. 2 (2013).

INSTRUÇÕES ENTREGÁVEL BLOCO 1

Assistir a palestra desse link e produzir 1-2 páginas sobre qualquer um dos assuntos abordados e pertinentes ao escopo deste Bloco-1.

https://youtu.be/Oqytn2JZzhc