Escrevendo Textos Científicos Chamativos

A escrita de textos científicos é um processo, para muitos, árduo, exaustivo e não recompensador. No entanto, é um processo essencial para o avanço da ciência, como aponta Peat et al [1] seria antiético realizar um estudo e não divulgar os resultados. Mas além disso, um processo que com boas práticas pode se tornar simples.

Uma das desmotivações associadas à escrita de textos científicos envolve a enorme quantidade de publicações existentes. Como fazer seu texto ser lido? Como ter um artigo chamativo? Primordial é a realização de uma pesquisa metódica e com achados relevantes, mas mais que isso, uma boa pesquisa deve ser acompanhada de uma boa escrita para que os achados ganhem visibilidade.

O primeiro contato dos leitores com seu trabalho será sempre o título, possivelmente o único contato. Logo Booth et al [2] exaltam a importância da elaboração do título, títulos curtos mas específicos impedem que leitores sejam desapontados ao se depararem com um artigo sobre um assunto específico, é indicado que a primeira palavra de um título seja uma palavra-chave do trabalho.

Tão importante quanto o título, na captura do leitor, é o resumo. Neste, deve-se condensar todas as informações do trabalho em algumas poucas palavras. A leitura do resumo informará ao leitor se o texto possui as informações que ele busca [1]. É possível e até necessário em alguns veículos que o resumo seja explicitamente divido nas seções presentes no texto.

Talvez a maior dica para escrita de textos científicos de modo geral seja a leitura, treinar-se a identificar bons e maus textos permitirá selecionar as características que os tornam bons ou maus e utilizá-las, as boas, em sua própria escrita. Espera-se, claro, que todas as demais sessões do texto recebam a mesma atenção que as aqui citadas, mas este texto limita-se as que possuem o maior impacto inicial no leito.

Referências

[1] Jennifer Peat et al. “Scientific writing: easy when you know how”. John Wiley & Sons, 2013.

[2] Vernon Booth et al. Communicating in science: writing a scien-tific paper and speaking at scientific meetings”. Cambridge University Press, 1993.

Ciência na América Latina

A América Latina é um subsistema regional geopolítico composto por 29 países das Américas central, do sul e dos Caribes [1], que compartilham como línguas-mãe os idiomas românicos.

Com uma população estimada de 635 milhões e área de 20,5 milhões de km² [2], a região forma um gigante que compartilha da Latinidade, uma identidade fluida e diversa, mas que compartilha de traços culturais e esforços históricos que ainda permeiam seus povos [3].

Das especiarias ao petróleo e independentemente da época, a América Latina sempre foi considerada rica nos recursos cobiçados pelos países dominantes, porém ao comparar a economia dos países latinos com as destes dominantes é verificada uma discrepância surpreendente.

Além disso, o valor latino não se limita à recursos naturais, a região possui trabalhadores excepcionalmente competentes e intelectualmente notáveis, Com 17 prêmios Nobel, nós possuímos a capacidade de propulsionar nossa identidade ao topo do patamar científico.

A Indústria 4.0 traz consigo um leque de problemas que apenas poderão ser resolvidos com as inovações possibilitadas pela Inteligência Artificial, no entanto é necessário organização entre governo e indústria para que, por meio das universidades, possamos capacitar cientificamente cidadãos para que descubram estes problemas e suas soluções. O não cumprimento deste processo inevitavelmente acarretará, mais uma vez, na transformação das nações da América Latina em colônias, desta vez tecnológicas.

Portanto, é necessária a união entre os países latino-americanos, para que a troca de poderio intelectual e experiências permitam a solução interna de problemas que assolam a região e posterior exportação de nossas soluções como uma potência tecnológica e científica.

Referências

[1] Adam Augustyn et al. “List of countries in Latin America”. In:Ency-clopædia Britannica(2017).

[2] UN Data. “Latin America and the Caribbean“, [online] available in http://data.un.org. In: Data. aspx(2019).

[3] Milagros Castillo-Montoya and Daisy Verduzco Reyes. “Learning La-tinidad: The role of a Latino cultural center service-learning coursein Latino identity inquiry and sociopolitical capacity”. In:Journal ofLatinos and Education19.2 (2020), pp. 132–147.

Pós-graduação e Saúde Mental

O ingresso em uma pós-graduação, em especial o doutorado, é uma importante decisão não apenas profissional, em busca do mais alto nível de especialização em uma área de conhecimento, mas de vida.

O doutorado é o treinamento de pesquisadores independentes que se apresenta para os que nele ingressam como uma longa e árdua jornada de auto-descobrimento e auto-aperfeiçoamento, uma jornada tão filosófica quanto é científica.

Esta jornada é prazerosa e recompensadora, e nela indivíduos engajados na ciência auxiliam diretamente na expansão dos limites do conhecimento humano.

No entanto pode ser exaustiva e requer cuidados, tanto por parte das instituições de ensino e pesquisa quanto dos próprios discentes para que preservem sua saúde mental.

Deterioração da saúde mental reduz produtividade e entusiasmo em projetos trabalhados, possivelmente prejudicando a produção do indivíduo em sua pesquisa, que por sua vez agrava o quadro mental, em um ciclo vicioso de reforços negativos. Mas o mais importante: problemas de saúde mental afetam a vida pessoal e familiar dos seres humanos que são afetados, influenciando em seus níveis de satisfação e ânimo com a vida de forma geral.

Um estudo feito com 2.279 estudantes de mestrado e doutorado de 26 países concluiu que 41% dos estudantes possuíam ansiedade de nível moderada a severa, além de 39% dos pós-graduandos apresentarem depressão nos mesmos níveis. [1]

No Brasil, Neto e Mari [2] relatam em seu estudo da Universidade Federal de São Paulo, realizado com 146 estudantes de pós-graduação, o quão assustadoramente comum são distúrbios de saúde mental na pós-graduação também no Brasil. 42,7% dos acompanhados foram diagnosticados com algum nível de depressão, com 18% mencionando tendências suicidas.

Mas o que torna a educação superior tão mentalmente exaustiva, a ponto de tornar doenças mentais seis vezes mais comuns que no resto da população? Entre os principais fatores se encontram a alta demanda de trabalho, conflitos com a vida pessoal, exclusão do processo de decisão, baixo controle do trabalho e pouco apoio por parte dos supervisores [3].

Os números, em conjunto com os relatos de causas percebidas nos levam a importante e extremamente necessária reflexão: como reverter a atual crise de saúde mental nas instituições de pesquisa?

Dois níveis de análise do problema podem ser tomados: 1) ações do discente, que em ciência das dificuldades trazidas pela pós-graduação busca prevenir os distúrbios de saúde mental, reduzindo o stress; 2) ações das instituições, que por meio de políticas tentam evitar ou minimizar os fatores agravantes dos distúrbios mentais.

Ao nível pessoal, possuir metodologias específicas e bem trabalhadas para abordar certos aspectos da pós-graduação. Possuir uma metodologia clara de anotações, como o método de Cornell [4], e a manutenção de uma rotina, por exemplo, podem ajudar no senso de controle sobre seus projetos.

Além destes, atividades que apresentam efeitos positivos na saúde mental de maneira geral podem e devem ser utilizados por discentes de pós-graduação. Alimentação saudável, exercícios regulares, sono apropriado de no mínimo 8 horas diárias e possuir atividades de lazer, como manter um hobby.

Quanto a aplicações de políticas em instituições de pesquisa é necessário uma mudança de foco para levantar o reconhecimento da saúde mental dentro de seus departamentos, além disso é importante a existência de profissionais capazes de tratar problemas de saúde mental.

Levecque et al [5] ainda aponta na importância da investigação de fundos de pesquisa e condições de emprego, observando a relação anteriormente não computadas na saúde mental. O número de estudantes para cada supervisor afeta diretamente no senso de inspiração de liderança que os estudantes recebem. Os autores indicam ainda uma abordagem de “gerenciamento de risco”, um visão importante para ambos os estudantes e a própria instituição que relaciona diretamente a a saúde mental dos discentes com a saúde das pesquisas que a instituição produz.

Referências

[1] Teresa M. Evans et al. “Evidence for a mental health crisis in graduate education”. In: Nature Biotechnology 36.3 (2018), pp. 282–284.issn: 15461696.doi:10.1038/nbt.4089.url:http://dx.doi.org/10.1038/nbt.4089.

[2] R Fagnani Neto and J J Mari. “Saúde Mental dos Estudantes de Pós-Graduação”. In: 37 (2004), pp. 1519–1524.

[3] Susan Guthrie et al. “Understanding mental health in the research environment: A rapid evidence assessment”. In:Rand health quarterly 7.3 (2018).

[4] Ross J. Q. Pauk Walter; Owens. “The Cornell System: Take Effective Notes”. In:How to Study in College. 10th ed. 2010. Chap. 10, pp. 235–277. isbn: 978-1-4390-8446-5.

[5] Katia Levecque et al. “Work organization and mental health problems in PhD students”. In: Research Policy 46.4 (2017), pp. 868–879. issn: 00487333.doi:10.1016/j.respol.2017.02.008.url:http://dx.doi.org/10.1016/j.respol.2017.02.0