CIÊNCIA ENQUANTO LATINO-AMERICANO

Uma das primeiras disciplinas cumpridas no mestrado originou um artigo, que conseguimos publicar em conferência internacional classificada entre os estratos superiores. A forma como conseguimos financiar os custos da viagem foi uma prova da criatividade latina: os autores do artigo dividiram as despesas da viagem, o professor que foi apresentar presencialmente o trabalho teve um desconto na inscrição por ser membro da IEEE, e a POLI nos apoiou também, reembolsando a maior parte desta inscrição. Tentamos outros apoios, mas por restrições orçamentárias dos órgãos, foram negados.

A conferência aconteceu em maio de 2019, e começamos a procurar ajuda para os recursos desde o momento em que soubemos da aprovação do artigo, em janeiro de 2019. Enfrentamos dificuldades, mas com o apoio dos envolvidos, e das instituições, conseguimos superá-las; não se sabe se conseguiríamos caso fosse em 2020, dadas as modificações que a pós-graduação do Brasil vem sofrendo nos últimos meses.

Em países como o Brasil, onde a educação não é tratada como prioridade pelo primeiro escalão do governo, é fundamental que se utilize a inventividade latina, a fim de se conseguir financiamento para pesquisas em setores da indústria que podem ser beneficiados pelos avanços tecnológicos provenientes destas pesquisas. E não se faz necessário ir para muito longe atrás destes incentivos à pesquisa vindos da indústria: Pernambuco possui exemplares de indústrias em cada uma das quatro revoluções industriais, e o avanço que uma delas poderia considerar trivial, pode ser vital para outra. Contudo, nem toda a indústria é receptiva a inovações como as trazidas por campos como a Computação Inteligente, dada a componente de experimentação inerente à área. Sendo assim, uma atitude positiva das organizações é necessária, caso contrário, todo o potencial será desperdiçado.

É importante que o pesquisador trabalhe com tópicos de seu interesse, para não transformar o trabalho em algo desgastante. Todavia, é preciso mais uma vez invocar a originalidade latina [1], a fim de que o pesquisador encontre um tema que consiga unir seus interesses com os do povo, e com os dos financiadores da pesquisa. Este modelo não convencional é necessário para diminuir o verdadeiro abismo que existe entre a academia e a indústria no Brasil, e atualmente, também entre a academia e alguns setores da sociedade e do governo, por mais inacreditável que esta realidade possa parecer.

As novas técnicas podem desempenhar papel de destaque na mudança de percepção da comunidade em relação à Ciência e Tecnologia. Elas vêm popularizando áreas como a Inteligência Artificial, até bem pouco tempo vistas como inacessíveis e exclusivas de nichos acadêmicos. Podem até mesmo trazer novos candidatos a cientistas ao meio acadêmico, vindos dos locais mais inusitados. Para que esta abertura no recebimento de novos membros no clube da ciência funcione, nós, já iniciados, devemos ter um olhar livre de preconceitos, como é esperado em um lugar multicultural como a América Latina, com suas diferentes realidades amalgamadas em um mesmo local.

Referências

1:            Cartagena, Colômbia, em 04/11/2016 – Key-Talk at 2016 IEEE LA-CCI “Possible roles of AI/CI in Latin America”, Fernando Buarque, University of Pernambuco et alli, acessado em 14/07/2020, disponível em https://youtu.be/P_SoCXR9pwI

CAPACIDADE DE DIAGNÓSTICO ESTRATÉGICO: COMPETÊNCIA ESSENCIAL DOS CIENTISTAS E DIRIGENTES PARA PESQUISAS E PARA POLÍTICAS PÚBLICAS

O mundo está mudando muito rápido. Nesse sentido para obter relevância e contribuirmos no que realmente possui valor e é importante para o futuro, nós do mundo acadêmico, não podemos nos afastar da capacidade de diagnóstico estratégico e da força de implementação. Uma “boa estratégia é aquela que permite explorar competências essenciais e obter vantagem competitiva” (HITT et al.; 2008). A competitividade vista sob a perspectiva da busca da capacidade de entregar mais com menos e em menos tempo em benefício social e individual deve ser perseguida por todos que desejam prosperidade a partir do consumo racional, sustentável e inteligente de recursos.

Entretanto, para competir de forma eficaz se faz necessário a identificação das competências essenciais capazes de proporcionar vantagem competitiva em relação aos concorrentes. Nesse sentido, a busca de um conjunto coordenado e integrado de compromissos e ações para explorar as competências essenciais e obter vantagem competitiva deve ser compreendida como uma skill emergente do mundo, seja acadêmico ou organizacional (público ou privado). A própria definição dos problemas de pesquisa exige uma articulação dos temas com aspectos como relevância, viabilidade e originalidade, e o conhecimento produzido nessas balizas é capaz de promover sim inovação científica e tecnológica. O ensino também pode cumprir um papel fundamental na formação de quadros com alta capacidade de aplicação, especialmente quando utiliza métodos que favoreçam o enfrentamento a problemas do mundo real, e não apenas meras abstrações. E isso pode virar o jogo da desigualdade a favor de qualquer nação.

Dado isso, o incentivo aos cientistas e a escolha dos dirigentes de políticas públicas, que articulem ações consistentemente conectadas a um projeto de sociedade e nacional, considerando articulação da capacidade de diagnóstico e de implementação de estratégias, se apresentam como necessidades alarmantes e urgentes. O documento “GLOBAL ISSUE: Fourth Industrial Revolution”, do Fórum Econômico Mundial (que foi recentemente atualizado para o contexto da Pandemia mundial de Covid-19, incorporando a influência acelerativa que o momento histórico tem produzido) destaca, dentre outras questões, a importância de políticas públicas com visão de longo prazo, bem como a necessidade de uma atuação ética e para atendimento de múltiplas partes interessadas, e pode servir como um importante farol de linhas mestras para elaboração de estratégias conectadas à quarta revolução industrial.

A imagem anexo I mostra um roadmap sobre o desenvolvimento de competências para quem deseja ser um profissional Data Science “BIG DATA ANALYTICS DATA MINING MACHINE LEARNING”. Essa é uma das mais promissoras profissões para “quarta onda” no mundo do trabalho, e é comum se ouvir a máxima: “antes de alguém aprender tudo isso o conhecimento já estará obsoleto”. E no roadmap não há nenhuma skill relacionada a ética, por exemplo. Esses profissionais podem vir a ser os engenheiros chefes do futuro da humanidade, e isso deveria ser uma preocupação estratégica em sua formação, segundo a própria visão do Fórum Econômico Mundial.

Portanto, o investimento em recursos humanos e materiais não pode ser obra do acaso. Deve ser minuciosamente planejada, concebida estrategicamente, como uma política pública de longo prazo, pois assim, aumentamos nossas chances de estarmos em melhores condições competitivas. Que tal desenharmos esse roadmap?

REFERÊNCIAS

AMARO, RODRIGO GAYGER. Notas de aula do professor no III MBA em Finanças e Investimentos – Estratégia Empresarial, 2015.

HITT, M. A.; IRELAND, R. D.; HOSKISSON, R. E. Administração Estratégica: competitividade e globalização. São Paulo: Thomson Learning, 2008.

WEFORUM. GLOBAL ISSUE: Fourth Industrial Revolution. Disponível em:  <https://www.weforum.org/agenda/2016/01/the-fourth-industrial-revolution-what-it-means-and-how-to-respond/>, acesso em 21/07/2020.

WEFORUM. GLOBAL ISSUE: Fourth Industrial Revolution. Disponível em:  <https://intelligence.weforum.org/topics/a1Gb0000001RIhBEAW?tab=publications>, acesso em 21/07/2020.

GITHUB. Data Scientist Roadmap.  Disponível em:  <https://github.com/MrMimic/data-scientist-roadmap>, acesso em 21/07/2020.

ANEXO I